“Heróis Contra a Hipertensão": um projeto inovador para a literacia em saúde das crianças

14/08/25
“Heróis Contra a Hipertensão": um projeto inovador para a literacia em saúde das crianças

A iniciativa “Heróis Contra a Hipertensão” é um projeto de literacia em saúde cardiovascular, destinado a crianças de cinco a 10 anos, que utiliza narrativas, jogos e imaginação para explicar os riscos da hipertensão arterial (HTA) de forma acessível e cativante. Patrícia Vasconcelos, internista do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, explica em entrevista que o objetivo principal é sensibilizar as novas gerações para a prevenção da HTA, promovendo o diálogo intergeracional em saúde. Leia na íntegra.

News Farma (NF) | Em que consiste a iniciativa e por que é tão importante focar a educação em saúde em crianças desta faixa etária?

Patrícia Vasconcelos (PV) | O “HERÓIS CONTRA A HIPERTENSÃO” é um projeto de literacia em saúde cardiovascular criado para crianças dos 5 aos 10 anos, que recorre ao universo da narrativa, do jogo e da imaginação para explicar, de forma acessível e envolvente, os riscos da hipertensão arterial (HTA). Com personagens inspiradas em divindades egípcias e vilões simbólicos que representam maus hábitos, a iniciativa pretende sensibilizar as novas gerações para a prevenção da HTA — promovendo conhecimento, escolhas conscientes e diálogo intergeracional sobre saúde. Ao capacitar as crianças como agentes de mudança, o projeto aposta numa intervenção precoce e positiva junto das famílias e comunidades.

Esta faixa etária corresponde a um período do desenvolvimento infantil, em que se dá a formação e consolidação de hábitos alimentares, comportamentais e emocionais e em que as crianças são naturalmente curiosas, recetivas e influentes. Nessas idades, o jogo e a imaginação são formas privilegiadas de aprendizagem. Ao introduzir conceitos de saúde desde cedo, ajudamos, não só a criar futuros adultos mais conscientes, mas também a influenciar positivamente as famílias e comunidades.

NF | De que forma o conteúdo do e-book foi concebido para ser integrado no currículo escolar e captar a atenção das crianças?

PV | O e-book foi desenhado para se articular facilmente com os objetivos curriculares de Cidadania e Desenvolvimento ou Educação para a saúde, tornando possível integrá-los no horário escolar sem sobrecarga. Cada história tem linguagem adaptada à idade, ilustrações apelativas e jogos no final, permitindo que a leitura seja interativa e participativa. O formato facilita o trabalho dos professores e educadores, pois fornece conteúdos prontos a usar, alinhados com objetivos educativos e ao mesmo tempo cativantes para as crianças.

NF | Como é que o e-book foi desenhado para facilitar a disseminação de informações e encorajar as famílias a adotarem práticas mais saudáveis?

PV | Ao envolver as crianças em histórias, jogos e desafios com mensagens acessíveis, positivas e práticas, o projeto promove naturalmente o diálogo no contexto familiar. Ao levarem para casa um jogo ou um e-book para partilhar com os irmãos, pais ou avós, as crianças criam oportunidades para discutir temas como a pressão arterial, a alimentação, o sono ou o exercício. Os conteúdos foram concebidos para serem partilhados em família, com sugestões específicas dirigidas também aos adultos. Desta forma, a criança assume o papel de um “pequeno herói” que leva conhecimento para casa e influencia, com entusiasmo, os comportamentos familiares.

NF | Como é que o projeto equilibra a abordagem de diferentes fatores de risco de forma compreensível para as crianças?

PV | Os fatores de risco cardiovascular surgem nas histórias como “vilões”, transformando conceitos abstratos ou complexos (como o sal em excesso ou o stress crónico) em personagens tangíveis e com personalidade. As crianças identificam-se mais facilmente com histórias do que com explicações. Ao “enfrentar” o Capitão Stress ou o Sr. Salgado, a criança compreende melhor o impacto negativo destes fatores — e aprende, de forma lúdica, como neutralizá-los. É uma abordagem pedagógica com base em metáforas visuais e narrativas.

NF | Quais são as expectativas para os testes-piloto e como será usado o feedback?

PV | Esperamos que os testes-piloto confirmem que as crianças não só compreendem as mensagens como as partilham com entusiasmo em casa. Vamos recolher feedback de alunos, professores e famílias para avaliar clareza, interesse e aplicabilidade das atividades. Este retorno será essencial para ajustar linguagem, ilustrações e jogos antes de uma implementação mais ampla, garantindo que o projeto é eficaz e relevante em contexto escolar. O envolvimento dos cuidadores será um elemento-chave na medição de resultados.

NF | O projeto tem o apoio de instituições ou sociedades científicas? Que papel têm essas parcerias na sua implementação e expansão?

PV | Sim. Este projeto (desenvolvido por mim e pelo Dr. Nuno Bragança em parceria com o grupo PHORMULA) conta com o apoio do Laboratório Tecnifar, no âmbito da sua política de responsabilidade social empresarial, bem como com o patrocínio científico de várias sociedades científicas, nomeadamente a Sociedade Portuguesa de Aterosclerose, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e a Fundação Portuguesa de Cardiologia. Estamos, também, em articulação com outras entidades, como a Sociedade Portuguesa de Pediatria, a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde e a Sociedade Portuguesa de Medicina do Estilo de Vida, aguardando oficialização do apoio. Estas parcerias são fundamentais para garantir a solidez científica do projeto e contribuir para a sua expansão e credibilidade a nível nacional.

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